Covid-19 e DII: uma experiência de vida

Covid-19 e DII: uma experiência de vida

O psicólogo paraense Leivanio Rodrigues da Silva, que faz parte da diretoria da ADIIPARA, conta como superou a Covid-19 e controla a DII

Comecei a manifestar os primeiros sintomas da doença inflamatória intestinal aos 16 anos, quando fui acometido por uma forte hemorragia digestiva sem causa aparente e tive muitas dores abdominais.

Recebi o diagnóstico no fim de 2013 e, hoje, consigo manter a doença em remissão com tratamento medicamentoso direcionado, mudança de estilo de vida e cuidados com minha saúde mental, pois, o que sabemos mais precisamente sobre a doença é que tem causa multifatorial para seu despertar ou entrar em crises.

Mesmo com minha DII em remissão, senti medo quando fui diagnosticado com Covid-19, em março de 2020, pois tive quadro de comprometimento pulmonar e não sabia o que poderia acontecer. A equipe que me acolheu no hospital foi incrível – do pessoal da limpeza aos especialistas.

Fui muito bem cuidado e as drogas eram administradas conforme os sintomas. Meu organismo ficou debilitado, perdi muito peso e tive sintomas gastrointestinais devido aos fortes antibióticos. A Covid-19 também provocou muitas dores articulares e musculares, cefaleia, indisposição, tosse e um cansaço que perdurou por uns 60 dias.

Mas, a todo momento, a médica que cuida da minha DII me contatava para orientar-me sobre possíveis medicamentos que eu não poderia receber, como no caso de anti-inflamatórios. Fui o 16º caso confirmado no Estado do Pará e isso gerou uma repercussão muito ruim.

Pessoas usaram minhas fotos em grupos de mensagens divulgando que eu estava contaminado e, além de toda a vivência com um vírus que sequer tinha protocolo de cuidados naquele momento, tive de passar quase por um ‘linchamento virtual’. Isso gerou danos psicológicos e emocionais bem significativos. No entanto, hoje posso dizer que estou bem e seguindo em minha rotina, que por sinal é na linha de frente.

Com a DII em remissão, faço atividade física com frequência, tratamento medicamentoso, tenho auxílio de uma nutricionista para a alimentação e cuido do meu psicológico, inclusive por causa da minha profissão. Como tenho uma rotina intensa, sempre que posso paro completamente.

Gosto de fazer ‘vários nadas’, já que neste momento de pandemia o lazer fora de casa segue muito restrito. Ler, escrever, escutar músicas, assistir a filmes e séries têm me ajudado bastante. Logo que isso tudo passar ou melhorar, quero poder viajar.

Como a DII é uma patologia crônica e multifatorial, os danos psicológicos e emocionais de longo prazo passam a ser preocupantes, pois a doença na fase ativa compromete a qualidade de vida. Muitas pessoas apresentam sintomas de ansiedade e quadro depressivo no decorrer dos anos, porque a doença nos limita socialmente se não for tratada corretamente.

Tudo que demanda restrição e sofrimento faz o paciente lidar com perdas, e perdas demandam luto. Isso precisa, muitas vezes, ser trabalhado em nível profissional para não gerar transtorno mental ou de ordem psicológica. E ajudar outros pacientes com DII em relação a isso é parte do meu trabalho.

O intestino é considerado o segundo cérebro, pois nele também são produzidos hormônios essenciais para o bom humor e funcionamento do organismo. Quando estão emocionalmente abaladas, muitas pessoas manifestam resposta somática e o intestino é um dos órgãos que respondem a esse abalo.Por isso, é fundamental trabalhar a saúde mental e ser assistido por uma equipe multiprofissional que vai cuidar do paciente como um ser integral.

O apoio das pessoas que nos rodeiam também é fundamental, pois o impacto físico, emocional e psicológico é muito grande e desgastante. É por esse motivo que os grupos, as associações, os encontros e a mobilização dos pacientes e profissionais são tão importantes para, cada vez mais, tornar essa causa visível, buscar novos tratamentos e auxiliar os pacientes.

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John Doe

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