Pele e imunossupressores

Pele e imunossupressores

Pacientes que fazem uso desses medicamentos devem ficar mais atentos

Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam que a neoplasia da pele é a mais frequente no Brasil, e o principal fator de risco é a exposição excessiva à radiação solar. No entanto, pacientes que usam imunossupressores – como transplantados, HIV positivo e indivíduos com doença inflamatória intestinal (DII) – têm maior probabilidade de infecções da pele e risco aumentado para o câncer da pele. Os imunossupressores diminuem a atividade do sistema imunológico e, por isso, controlam as doenças inflamatórias crônicas, como a DII. Com a diminuição da atividade da doença, diminui também o sistema de defesa contra agentes infecciosos (bactérias, vírus e fungos), o que facilita a ocorrência de infecções e as tornam mais graves.

“As infecções da pele não são muito frequentes, mas se manifestam com áreas de vermelhidão e calor aumentado na pele”, orienta o dermatologista Marcelo Arnone, médico assistente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), responsável pelo Ambulatório de Colagenoses e coordenador do Ambulatório de Psoríase, ambos da Divisão de Dermatologia do HC-FMUSP. Entre as enfermidades mais frequentes estão as piodermites (infecções bacterianas da pele), como celulite, erisipela e furúnculos. Mas os pacientes com DII também têm maior chance de apresentar outras doenças na pele, como eritema nodoso, pioderma gangrenoso e psoríase.

O eritema nodoso é uma inflamação do tecido gorduroso e se manifesta como nódulos avermelhados, quentes e dolorosos, principalmente nas pernas. O pioderma gangrenoso envolve o aparecimento de úlceras na pele, geralmente de crescimento rápido e difícil cicatrização; enquanto a psoríasese caracteriza pelo aparecimento de manchas vermelhas e descamativas, mais frequentes em braços e pernas.

Mesmo sendo mais frequentes nos indivíduos com DII, essas doenças são raras. Assim que forem diagnosticadas, as infecções devem ser tratadas, geralmente com uso de antibiótico (oral ou endovenoso), para evitar complicações como abscessos (acúmulos de pus) e disseminação para a corrente sanguínea. “Das pessoas que utilizam imunossupressores, as que mais apresentam complicações são as transplantadas, pois utilizam mais de um imunossupressor, geralmente em doses altas e por período prolongado. Os indivíduos com doenças inflamatórias crônicas também podem apresentar tais complicações”, explica.

O médico lembra, ainda, que o câncer da pele merece atenção especial, pois é muito mais frequente nos pacientes que fazem uso de imunossupressores. “Assim como as que ocorrem em outros órgãos, as neoplasias da pele se desenvolvem pela combinação de predisposição aliada à exposição. Os indivíduos com predisposição genética geralmente têm pele e olhos claros”, informa.

Dos fatores ambientais, merecem destaque a exposição crônica ao sol e a ação imunossupressora, fazendo com que esses cânceres sejam mais frequentes e agressivos. A pele é o maior órgão do corpo humano e os tipos de neoplasia da pele mais comuns na população são os carcinomas basocelular e espinocelular, que geralmente ocorrem após os 60 anos de idade.

O tipo basocelular tem menor gravidade, pois apresenta crescimento lento e muito raramente leva a metástases, enquanto o carcinoma espinocelular se caracteriza por crescimento rápido, frequentemente forma ferida e pode se espalhar mais comumente para outros órgãos (metástases). “Nos indivíduos que fazem uso de imunossupressores, essa relação se inverte, sendo mais comum o carcinoma espinocelular. Outra característica é que esses tumores podem aparecer em indivíduos mais jovens. O câncer da pele também tende a ser mais agressivo nos imunossuprimidos, crescendo mais rapidamente e com maior chance de se espalhar para outros órgãos”, adverte.

O dermatologista Marcus Maia, professor da Santa Casa de São Paulo e coordenador do Ambulatório de Oncologia da Pele da Clínica de Dermatologia da instituição, acrescenta que sempre que um paciente estiver submetido a uma terapêutica que diminua as defesas do organismo deve evitar a exposição solar, principalmente se a pele for clara. “O paciente com supressão imunológica fica muito mais susceptível, pois a pele não se defende da radiação solar. Por isso, a fotoproteção é muito importante, tanto com filtro solar como com uso de chapéus e camiseta”, acentua.

Para o especialista, o que realmente é eficiente é a proteção solar têxtil, porque o filtro solar perde a sua capacidade de proteção gradativamente (em 1 hora) e necessita de reposição, o que geralmente não é realizado pelo paciente. Além disso, o paciente que já tem certo risco para câncer da pele deve receber orientação para fotoproteção absoluta. “Durante o tempo de terapêutica imunossupressora, deve ser orientado a procurar o dermatologista a cada quatro meses, principalmente para reforçar a necessidade de fotoproteção ou surpreender qualquer lesão suspeita”, argumenta o médico Marcus Maia.

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Medicamentos

Estudos demonstram aumento da incidência de câncer da pele em pacientes que usam imunossupressores, bem como maior agressividade desses tumores nesses pacientes. “Dos imunossupressores utilizados, os que oferecem maior risco são a azatioprina e a ciclosporina.

Já o uso dos corticosteroides, como a prednisona, parecem não aumentar o risco para ocorrência de câncer da pele”, acentua o médico Marcelo Arnone. Entre os sinais e sintomas, devem chamar a atenção feridas que não cicatrizam, localizadas preferencialmente nas áreas de exposição solar, como face e dorso das mãos.

O professor Marcus Maia lembra que existem várias situações de imunossupressão, como transplantes, AIDS e doenças autoimunes sob terapêutica, e é importante que os dermatologistas sejam orientados para considerarem, na orientação aos pacientes, a necessidade da proteção solar. “Outras manifestações próprias da DII também são bem conhecidas dos gastroenterologistas, porém, o auxílio do dermatologista na condução desta situação é bem interessante para o paciente”, sugere.

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