DII no contexto da atenção às condições crônicas de saúde

DII no contexto da atenção às condições crônicas de saúde

Coordenador das Redes de Atenção Primária e Psicossocial de Fortaleza destaca modelo de atenção

O Brasil, que até o começo do século 21 tinha uma quantidade pequena de habitantes acima de 60-70 anos de idade e uma enorme quantidade de jovens, hoje assiste a um processo de envelhecimento da população e, consequentemente, as condições crônicas de saúde passam a ser mais evidentes.

As mudanças não estão relacionadas apenas às condições socioeconômicas, mas também em relação ao padrão de comportamento e à alimentação, com aumento expressivo nas taxas de sobrepeso, fator de risco para uma série de enfermidades. Por exemplo, de cada quatro brasileiros, um apresenta hipertensão arterial sistêmica, uma condição crônica que, se não for vista e abordada de forma adequada, vai levar a situações críticas e já sobrecarrega o sistema de saúde.

“A transição epidemiológica é exatamente o perfil do que mais acomete a população e temos de trabalhar esse processo de mudança para que essas condições crônicas de saúde sejam devidamente acompanhadas.

E é nessa questão que se encaixa a DII”, afirma o pediatra Rui de Gouveia Soares Neto, coordenador das Redes de Atenção Primária e Psicossocial da Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza, que foi um dos palestrantes do I FOPADII Regional Norte-Nordeste. O médico acrescenta que o sistema de saúde no Brasil não terá dinheiro para atender toda a demanda, por isso, o recurso também tem de ser priorizado pelos gestores públicos. E, por mais que se priorize e aumente o investimento na saúde, também é preciso organizar o sistema e controlar as doenças com o menor custo possível.

Por exemplo, se todos os hipertensos conseguissem rigorosamente controlar a hipertensão arterial sistêmica, diminuiria muito a quantidade de infarto e acidente vascular cerebral (AVC), esses pacientes ocupariam menos leitos de UTI, custariam muito menos diárias no hospital e esse dinheiro poderia ser utilizado para atender a outras doenças crônicas.

“Portanto, sobrariam recursos para comprar medicamentos fundamentais para tratar pacientes com DII de forma integral, porque a integralidade da atenção à saúde é um princípio do SUS. No entanto, somente no Rio de Janeiro, a incidência de diabetes cresceu 61,8% nos últimos 10 anos, o que pode ter impacto na gestão da saúde no futuro”, ressalta.

E, além de prevalência e predominância das condições crônicas, ainda há uma grande parcela da população tabagista, com inatividade física, uso excessivo de álcool e alimentação inadequada, fatores que vão se somando a esse processo e culminam com um aumento no custo da saúde.

Para agravar o quadro, outras condições crônicas, como as doenças inflamatórias intestinais, também vêm apresentando progressão. De 1988 a 2012, houve uma variação de quase 15% na incidência de retocolite ulcerativa no Brasil, ou seja, a doença acompanha esse crescimento.

“Precisamos evitar situações que oneram mais o sistema de saúde e, consequentemente, ter condições de gerenciar de forma adequada a integralidade da atenção à saúde, pois está demonstrado que só injetar dinheiro não resolve o problema”, reforça.

Elementos importantes do sistema de atenção à saúde incluem, além da organização da atenção, a forma como será distribuída a prestação de serviço no sistema e o suporte às decisões. Desta forma, mesmo não tendo um especialista em cada cidade, os profissionais teriam um suporte na decisão, que pode ter um impacto muito maior do que simplesmente garantir o encaminhamento para um especialista.

Autocuidado apoiado

Para o médico, é necessário analisar toda essa questão do autocuidado apoiado, porque o modelo de atenção à saúde no Brasil, desde o começo do século 20, vem trabalhando na forma­ção de novos profissionais não só da medicina, mas em várias áreas da saúde, com um modelo que diz que toda doença é causada por um determinado fator e todo o foco de aprendizado é na doença.

“E esse é um processo que exige mudança de cultura dos profissionais da saúde e da população – e aí entra o processo de autocuidado apoiado, em que o paciente compreende que o principal responsável por cuidar da sua saúde é ele mesmo, com apoio dos médicos”, avalia.

O coordenador destaca, ainda, que os pacientes com condições crônicas de saúde precisam ter informações e entendimento sobre suas doenças para criarem interações produtivas com a equipe multidisciplinar, que deve ser proativa e preparada por meio de boa formação e educação continuada.

“Isso é fundamental para obtermos bons resultados clínicos e funcionais. Precisamos da atenção primária à saúde integrada com os especialistas que dão suporte às suas ações. Claro que, nas DII, é muito provável que o paciente precise de um suporte mais intenso do especialista, mas, muitas vezes, as principais decisões são feitas na atenção primária e, para isso, é preciso um suporte especializado de tomada de decisão”, acentua.

Acesse a Revista FOPADII 2020| 21 ou assista em www.fopadii.com.br

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