
Cuidados básicos das ostomias
Presidente da Associação Mineira de Ostomizados ressalta importância da atividade de enfermeiros e agentes de saúde no cuidado do estoma
A ostomia (ou estomia) é um procedimento cirúrgico realizado para a construção de um trajeto entre um órgão e o meio exterior. As ostomias de eliminação são as colostomias, ileostomias e urostomia, que são construídas nos casos de retirada de parte (ou todo) dos intestinos grosso e delgado, e a bexiga, respectivamente.
A doença inflamatória intestinal é a segunda causa de ostomias de eliminação no Brasil e, durante o curso de capacitação dos médicos, enfermeiros e agentes de saúde no I FOPADII Regional, em Fortaleza, em 2020, a enfermeira Alessandra Castro ministrou palestra com objetivo de informar e desmistificar o uso da bolsa de ostomia para os agentes de saúde.
Diagnosticada com doença de Crohn no ano 2000, a presidente da Associação Mineira de Ostomizados (AMOS) é ostomizada desde 2006 e dá aulas e palestras para orientar pacientes, familiares e profissionais da saúde em relação às ostomias.
Autora do livro Registros de uma Crohnista (2015), Alessandra Castro lembra que muitas pessoas, principalmente em rede social, dizem que está errado tocar no assunto de ostomia para pacientes com DII, porque ficam apavorados. Entretanto, a maior arma dos pacientes é justamente a informação. “A cirurgia que determinou minha ostomia foi emergencial e não tive a minha médica explicando detalhadamente como era o procedimento antes de seguir para o centro cirúrgico.
Se eu não fosse enfermeira e soubesse o que era ostomia, teria sido muito difícil”, argumenta. Por causa da falta de informação, muitos ostomizados ficam desesperados e até desistem de viver, por isso, enfermeiros e agentes de saúde ganham um papel ainda mais importante neste contexto.
“Estamos na ponta do atendimento com o paciente e, após a cirurgia, é fundamental ter alguém que explique como usar e cuidar da bolsa adequadamente. Há casos complicadíssimos de ostomia, mas isso não é comum. Entretanto, é o que vai aparecer para o paciente que vai para a internet.
Por isso, precisamos estar sempre bem informados para ajudar”, ressalta. Alessandra Castro explica que, assim que o paciente sai da cirurgia, começa um momento muito importante, que são as escolhas que fará com sua nova condição, entre as quais a bolsa que melhor se adapte ao seu corpo.
Outras orientações envolvem o cuidado que o paciente precisa ter com o estoma para evitar dermatites e ferimentos na pele, e com os produtos que poderão ajudar na manutenção da bolsa e da região ostomizada.
Preconceito e direitos
Alessandra Castro enfatiza que o preconceito em relação aos ostomizados é uma das piores situações vividas por um paciente com DII. “Ostomizado não fede usando a bolsa certa, isso só acontece quando vaza.
É o mesmo que ocorre a qualquer pessoa que use o banheiro e não se higienize direito”, acentua. Importante ressaltar que todo ostomizado tem direito a receber gratuitamente bolsas coletoras de fezes e urina e outros acessórios, assim como materiais para higiene e cuidados com a pele.
Além disso, o decreto federal 5.296/2004 classifica os pacientes ostomizados como pessoas com deficiência e garante amparo de um conjunto de leis que regulamentam os seus direitos no Brasil nas esferas federal, estadual e municipal, como isenção de imposto de renda na aposentadoria por invalidez, saque do PIS e do FGTS, isenção de ICMS e IPI na compra de carro adaptado, isenção de IPVA para veículos adaptados, auxílio-doença, benefício assistencial (BPC-LOAS) e passe livre municipal, intermunicipal e interestadual.
“A única coisa que peço a vocês, como profissionais, é que olhem todos os pacientes, e em particular os ostomizados, como pessoas inteiras. Humanizem esse tratamento, porque isso é tudo que precisamos. O resto vamos convivendo, aprendendo e tirando de letra”, enfatiza.